A pedra foi lançada há 100 anos, mas a ideia e a intenção vêm de trás. Um edifício cuja história é indissociável do vinho, néctar divino aqui fermentado pelo menos desde a chegada dos romanos, antigos residentes e apaixonados por Almoçageme. Uma vinha local que se fez heroína, cujas raízes transcendem para trespassar as areias do terreno onde estão plantadas, resistindo forte e solitária à praga da filoxera, e evitando o desaparecimento de toda a cultura na Europa.
O vinho desta região demarcada que se personifica no nome de José Gomes da Silva e sua mulher, referências da terra que proviam ao povo o trabalho nas suas vinhas, e que fizeram erguer estas paredes como sede do Grémio Republicano Musical de Almoçageme, hoje Sociedade Recreativa e Musical Almoçageme.
A banda chegou aos nossos dias, bem como a sala que acolhe 230 pessoas sentadas para apreciar e participar nos variados espectáculos que sobem ao palco, e graças ao entretenimento e cultura beber do outro sustento necessário, o da alma.
Quando abre o Cine-Teatro, ganha vida uma casa na altura tida como uma das melhores de toda a capital e área circundante. Os tempos eram outros, Almoçageme cresceu, mas a história mantém-se. A comunidade continua a trabalhar para preservar as tradições da terra e cuidar da beleza e alegria do lugar, a quem cá vive e quem o visita. E o Cine-Teatro mantém-se a agremiar as gentes, na casa de espectáculos mais ocidental do país e a primeira da Europa geográfica. Por tudo isto é o lugar indicado para albergar o Cine Clube de Sintra, cujo objetivo é trazer de volta o Cinema a Almoçageme e Sintra.
Outra definição de monumento é recordação, e em recordação podemos ler memória. A memória serve-nos como lembrete de que estamos vivos, ligando-nos, hoje, a quem já cá esteve, e aos que virão depois. Monumento é palavra que pode qualificar um edifício, mas também um magnífico filme, uma vida feliz e digna, e toda uma comunidade.
Texto: David Neto